O PERFIL DO GESTOR ESCOLAR
Qual
o perfil profissional necessário para exercer a função de gestor(a) escolar?
Tentaremos
responder essa pergunta ao longo dessa seção, entendendo conforme Luck (2009,
p. 22), que:
Os gestores escolares, constituídos em
uma equipe de gestão, são os profissionais responsáveis pela organização e
orientação administrativa e pedagógica da escola, da qual resulta a formação da
cultura e ambiente escolar, que devem ser mobilizadores e estimuladores do
desenvolvimento, da construção do conhecimento e da aprendizagem orientada para
a cidadania competente.
Diante
dos desafios da educação, atualmente, quanto mais os gestores se apropriarem de
conhecimento específicos da área educacional, maiores serão as possibilidades
de atuação junto à escola e à comunidade escolar.
Quem
é o gestor escolar?
O
gestor escolar é o líder, mentor, coordenador e orientador principal da vida da
escola e de todo o seu trabalho educacional, não devendo sua responsabilidade
ser diluída entre todos os colaboradores da gestão escolar, embora possa ser
com eles compartilhada. Portanto, além do sentido abrangente, a gestão escolar
constitui, em caráter delimitado, a responsabilidade principal do diretor
escolar, sendo inerente ao seu trabalho a responsabilidade maior por essa
gestão (LUCK, 2009).
A
seguir apresentamos, conforme Maranhão (2013), algumas ações que compreendem a
função do gestor escolar:
·
Controlar
a eficácia da utilização dos recursos materiais e financeiros da escola;
·
Articular
a relação entre a escola e a Secretaria de Educação;
·
Articular
a escola e a comunidade;
·
Formular
e adotar medidas normativas e regulamentares condizentes com os objetivos da
escola;
·
Delegar
e supervisionar o cumprimento das responsabilidades delegadas;
·
Assegurar
o processo participativo de tomada de decisões e zelar para que essas ações se
convertam em ações concretas;
·
Organizar
e coordenar as atividades de planejamento, avaliação e do Projeto Político-Pedagógico,
juntamente com o coordenador pedagógico, acompanhar e avaliar sua execução;
·
Organizar
e articular todas as unidades componentes da escola;
·
Promover
atividades em articulação com a comunidade de caráter pedagógico,
·
Conhecer
a legislação educacional e de ensino, as normas emitidas pela Secretaria de Educação
e o Regimento Escolar, assegurando seu cumprimento;
·
Divulgar
os objetivos da escola e suas metas, assim como acompanhar o desempenho escoar
dos alunos e apresentar os resultados à comunidade escolar;
·
Responsabilizar-se
pela organização financeira, controle das despesas da escola.
Dimensões
da gestão escolar
Para uma melhor compreensão do trabalho da equipe gestora, abordaremos as seguintes dimensões da gestão escolar:
1. Gestão de resultados educacionais
A
preocupação com os resultados educacionais faz parte das políticas educacionais
e tem conduzido muitas ações na escola que têm sido feitas com o objetivo de
melhorar os resultados, principalmente das avaliações externas por meio do
IDEB. Como já foi discutido, a qualidade da educação escolar vai muito além das
notas das avaliações externas, mas esses dados fazem parte da política oficial
de avaliação dos sistemas educacionais e podem ser utilizados pedagogicamente, possibilitando
reflexões sobre a aprendizagem dos alunos.
Conforme
Lück (2009), na gestão de resultados o gestor escolar pode desenvolver as
seguintes ações:
Ø Analisar comparativamente os indicadores
de desempenho da escola, nos últimos anos, identificando avanços e aspectos em que
é necessária maior concentração de esforços para sua melhoria;
Ø Promover e orientar a aplicação sistemática
de mecanismos de acompanhamento da aprendizagem dos alunos, de modo a
identificar alunos e áreas de aprendizagem que necessitam de atenção pedagógica
diferenciada e especial, de forma individual e coletiva;
Ø Analisar comparativamente os indicadores
de rendimento de sua escola com os referentes ao âmbito nacional (IDEB, SAEB, Prova
Brasil etc.), estadual e local, porventura existentes, e estabelecer metas para
a sua melhoria;
Ø Informar a comunidade escolar e local sobre
as estatísticas ou indicadores produzidos por avaliações externas, como o SAEB,
IDEB, Prova Brasil, Provinha e ENEM, discutindo o significado desses
indicadores de modo a identificar áreas para a melhoria da qualidade educacional;
Ø Diagnosticar diferenças de rendimento e
condições de aprendizagem dos alunos de sua escola, identificando variações de
resultados em subgrupos e condições para superar essas diferenças;
Ø Promover na escola o compromisso de
prestação de contas aos pais e à comunidade sobre os resultados de aprendizagem
e uso dos recursos alocados ao estabelecimento de ensino;
Ø Identificar as habilidades que os alunos
estão aprendendo ou deixando de aprender em cada segmento de aprendizagem, em
cada turma, com cada professor, em cada turno escolar e na escola como um todo.
2. Gestão
democrática e participativa
A
gestão democrática é entendida como a participação efetiva dos vários segmentos
da comunidade escolar, como pais, professores, estudantes e funcionários na
organização, na construção e na avaliação dos projetos pedagógicos, na
administração dos recursos da escola, enfim, nos processos decisórios da
escola. Portanto, tendo mostrado as semelhanças e diferenças da organização do
trabalho pedagógico em relação a outras instituições sociais, focamos nos
mecanismos pelos quais se pode construir e consolidar um projeto de gestão
democrática na escola (OLIVEIRA; MORAES; DOURADO, 2012).
3. Gestão
pedagógica
Um
dos grandes desafios dos gestores escolares é promover na escola uma boa gestão
pedagógica. Muitas vezes, os gestores acabam ficando sobrecarregados com outras
ações da gestão e deixam em segundo plano uma área tão importante.
A
gestão pedagógica está relacionada ao objetivo principal da educação escolar,
que é a promoção da aprendizagem. A escola deve garantir a universalização do
acesso na educação básica, à permanência e à aprendizagem em tempo adequado
para promover uma educação de qualidade.
É
importante que o gestor escolar conheça a estrutura básica de organização de
uma escola, para favorecer o alcance dos objetivos educacionais e as
aprendizagens dos alunos. A figura a seguir, apresenta um organograma básico
de uma escola de acordo com Libâneo (2011).
A
organização escolar compreende:
ü
Conselho
escolar: tem
atribuições consultivas, deliberativas e fiscais;
ü Gestor escolar: coordena, organiza e gerencia todas as
atividades da escola;
ü Setor técnico-administrativo: respondem pelos meios de trabalho que
asseguram o atendimento dos objetivos e das funções da escola;
ü Setor pedagógico: compreende as atividades de coordenação
e de orientação educacional composto ainda pelo conselho de classe que delibera
sobre a avaliação da aprendizagem;
ü Professores e alunos: tem como objetivo prioritário
contribuir com processo de ensino e aprendizagem. O corpo discente corresponde
aos alunos e suas instâncias de representatividade;
ü Pais e comunidade: devem participar da vida escolar dos
alunos e da tomada de decisões na escola.
A
articulação entre esses grupos é fundamental para que a escola tenha uma boa
organização. Nesse contexto, o gestor precisa conhecer os aspectos legais que
determinam o tempo de permanência dos alunos na escola e a idade de acesso em
cada etapa de ensino.
A
Secretaria Municipal de Educação pode definir, ou redefinir a partir das
condições de cada escola, o regime de atendimento na educação infantil e no
ensino fundamental: parcial (4 horas diárias) ou integral (duração de, pelo
menos, 7 horas diárias).
O
PNE (Lei nº 13.005/2014) estabelece na Meta 6: “oferecer educação em tempo
integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo
menos 25% dos(as) alunos(as ) da educação básica.
A
gestão de pessoas representa uma dimensão muito importante para a instituição
escolar, A convivência coletiva, muitas vezes , gera conflitos que precisam ser
administrados pelos gestores escolares, para não comprometerem a função
principal da escola: que ê garantir a aprendizagem dos estudantes.
Para
Scalon (2018}, a gestão de pessoas pode ser compreendida a partir de 5 pilares:
Pilares da gestão de pessoas
Como funciona cada Pilar:
Motivação: o gestor escolar precisa motivar sua equipe, dar feedbacks positivos,
estabelecendo metas claras para a escola e
para cada setor, tratando todos os profissionais com ética e transparência;
Comunicação: muitos problemas na escola podem ser evitados se a comunicação for clara e os canais
foram eficazes. O gestor escolar
precisa incentivar o diálogo entre todos da escola e quando se comunicar não demorar tanto para dar as respostas;
Trabalho em equipe: nenhum gestor escolar vai conseguir dar conta sozinho de todas
as demandas de uma escola. Centralizar
as ações na gestão podem impedir que escola alcance
o sucesso. Por isso, é importante criar grupos de trabalho, fazer reuniões periódicas, planejadas e incentivar momento de lazer e descontração entre os membros
da equipe;
Conhecimento e competência: o gestor deve com base no PPP promover e orientar a troca de experiências entre professores e sua interação, como estratégia de formação continuada em serviço para o desenvolvimento de competência profissional e melhoria das práticas
educativas;
Treinamento e desenvolvimento: o gestor
pode identificar os grupos
na escola que necessitam de maior atenção
para melhorar as práticas profissionais e buscar parceiros para garantir formação
contínua para esses grupos.
O
trabalho escolar envolve a necessidade da equipe gestora em lidar com as
relações interpessoais, demonstrando capacidade de coordenar e delegar tarefas
entre os diferentes setores que compõem a escola, profissionais do magistério e
os demais trabalhadores da educação. É importante conhecer quem são os
servidores que atuam na escola e os aspectos legais que envolvem a atuação de
cada um, a fim de potencializar seus conhecimentos e habilidades em prol da
promoção da aprendizagem com qualidade social.
De
acordo com LDBEN, no art. 61: •consideram-se profissionais da educação escolar
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em
cursos reconhecidos", (BRASIL,1996),
E
outros trabalhadores em educação são?
Servidores
de apoio administrativo, ASGs, merendeiras, e vigias das escolas, são
trabalhadores em educação, mas não membros do magistério. Bibliotecários,
nutricionistas e psicólogos são profissionais de nível superior que podem atuar
nos sistemas de ensino, mas nem por isso passam a fazer parte do magistério
(MOURA,2001, p. 18-19).
Agora
que conhecemos quem são os profissionais do magistério e os demais
trabalhadores em educação, vejamos outras ações que o gestor escolar pode
desenvolver no processo de gestão de pessoas, conforme Lock (2009,p.81):
Ø Promover o trabalho coletivo, focalizado
na promoção dos objetivos de formação e aprendizagem dos alunos;
Ø Promover a prática de bom relacionamento
interpessoal e comunicação entre todas as pessoas da escola, estabelecendo
canais de comunicação que facilitem a interlocução com a comunidade escolar,
Ø Auxiliar na interpretação de
significados das comunicações praticadas na comunidade escolar, fazendo-as
convergir para os objetivos educacionais;
Ø Desenvolver na escola ações e medidas
que a tomem uma verdadeira comunidade de aprendizagem, na qual todos aprendem
continuamente e constroem, de forma colaborativa, conhecimentos que expressem e
sistematizem essa aprendizagem;
Ø Facilitar as trocas de opm1oes, ideias e
interpretações sobre o processo socioeducacional em desenvolvimento na escola, mediante
a metodologia do diálogo, atuando como moderador em situações de divergências e
de conflito.
5. Gestão
do clima e cultura escolar
Um
dos grandes desafios para o gestor escolar é garantir que a escola funcione de
forma harmoniosa, com um ambiente voltado para a aprendizagem dos alunos, onde
todos possam se sentir motivados a garantir boas práticas de ensino com o
estabelecimento de valores e princípios que contribuam para um bom clima
escolar.
A
cultura escolar pode ser compreendida como o conjunto de saberes,
comportamentos e tradições presentes nas relações sociais na escola (SILVA,
2006). Sendo a escola uma instituição feita por pessoas, ela vai materializar
no clima escolar as relações e interações sociais.
O
clima organizacional, portanto, é o grande indicador da cultura reinante em uma
instituição. É por meio dele que se percebe a harmonia, os tipos de liderança, a
disciplina e a qualidade das relações. Em consequência disso, as diretoras e
diretores devem reconhecer, valorizar e buscar construir um clima
organizacional compatível com os princípios da qualidade e da democracia, a fim
de instituir a paz necessária à prática educativa (NETO,2017).
Por
isso, é importante que o gestor busque estratégias para garantir um bom clima
escolar, conforme Lück (2009,p. 115):
Ø Promover na escola um ambiente orientado por valores, crenças, rituais,
percepções, comportamentos e atitudes em consonância com os fundamentos e
objetivos legais e conceituais da educação e elevadas aspirações da sociedade;
Ø Realizar inventário e avaliar a cultura organizacional
existente na escola, identificando suas fortalezas e desafios em relação à
compatibilidade com as condições necessárias à aprendizagem e formação dos
alunos;
Ø Identificar e compreender as expressões
de preconceitos e tendenciosidades prejudiciais à formação e aprendizagem de
todos os alunos e as práticas educacionais convergentes necessárias para esses
objetivos;
Ø Influenciar positivamente o modo
institucionalizado de pensar dos participantes da comunidade escolar, fazendo-o
convergir em torno do ideário educacional formulado para orientar a ação
educacional da escola;
Ø Analisar as forças de poder existentes
na escola, os valores que as orientam e seu papel na escola, e age fazendo-as
convergir para o empoderamento conjunto de todos e da escola;
Ø Estabelecer na escola um modo de ser e
de fazer dinâmico, positivo, aberto e orientado para sua continua transformação
na construção de ambiente educacional positivo em que a aprendizagem é um
valor;
Ø Promover a convergência entre os valores
educacionais e as práticas cotidianas da escola, de modo que estas os traduzam
e os expressem, mediante a maior convergência possível.
Gestão dos espaços escolares
Cuidar dos espaços escolares é compreender que os ambientes em muitos aspectos materializam e refletem o Projeto de Educação e a cultura de uma instituição. Garantir a organização dos espaços escolares, pensando no acolhimento e nas vivências com os outros, também é uma forma de tornar a escola um espaço democrático.
Cuidar dos espaços de recepção dos pais, organizar as salas de aula, preparar os refeitórios e manter os banheiros limpos, por exemplo, são práticas essenciais para o desenvolvimento de um clima organizacional educativo e aprendente.
6. Gestão
administrativa
As
escolas, para que correspondam às expectativas dos pais e da comunidade, e
cumpram sua função social, precisam, conforme Libâneo (2011, p. 301),"ser
mais bem organizadas e administradas para melhorar a qualidade da aprendizagem
escolar dos alunos".
O gestor escolar, conforme Lück (2009, p, 105),pode:
Ø Gerenciar a correta e plena aplicação de
recursos físicos, materiais e financeiros da escola;
Ø Promover na escola a organização,
atualização e correção de documentação, registros de alunos, diários de classe,
estatísticas, legislação;
Ø Assegurar a constituição, de forma
permanente na escola, de ambiente limpo, organizado e com materiais de apoio e
estimulação necessários à promoção da aprendizagem dos alunos;
Ø Assegurar, mediante continuo
monitoramento, o cumprimento dos 200 dias letivos e das 800 horas de trabalho
educacional (art. 24 da LDBEN nº 9.394/96) com o envolvimento do educando e do
professor no efetivo processo de ensino e aprendizagem;
Ø Zelar pela manutenção das condições de
uso dos bens patrimoniais disponíveis na escola mediante contínuo inventário
dos mesmos e providência de consertos imediatos.
7. Gestão
financeira
Existem
programas específicos voltados para subsidiar as escolas na melhoria da
infraestrutura, e com vistas a garantir a compra de insumos necessários para a
realização das atividades nas instituições.
Programa Dinheiro Direto
na Escola (PODE)
O PDDE consiste na assistência financeira às escolas públicas da educação básica das redes estaduais, municipais e do Distrito Federal e às escolas privadas de educação especial mantidas por entidades sem fins lucrativos. O objetivo desses recursos é a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, o reforço da autogestão escolar e a elevação dos índices de desempenho da educação básica. Os recursos do programa são transferidos de acordo com o número de alunos, de acordo com o censo escolar do ano anterior ao do repasse (Fonte: http://portal.mec.gov.br/pdde).